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Carne Brasileira Desvalorizada

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Em 2020 o Brasil passou a ser o país com o maior rebanho bovino do mundo, com 217 milhões de cabeças, representando 14,3% do rebanho mundial. Também em 2020, o país se encontrou no posto de maior exportador de carnes bovina do mundo com 14,4% do mercado internacional, ou 2,2 milhões de toneladas (dados da FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations). Entretanto, o Brasil ficou apenas aterceira colocação em valor sendo superado pela Austrália (em 1° lugar) e EUA (em 2° lugar). 

Carne Brasileira Desvalorizada
Exportações de carne bovina no ano de 2020 em bilhões de US$. Fonte: FAO

Essa discrepância se deve, em grande parte, à composição de seu rebanho, formado predominantemente por raças zebuínas como Nelore – que corresponde a 80% do rebanho nacional, Tabapuã, Guzerá e Brahman. Embora essas raças sejam reconhecidas por sua resistência e adaptabilidade, a qualidade da carne brasileira é subvalorizada em comparação às raças taurinas, comuns nos Estados Unidos e na Austrália, que produzem cortes com maior teor de gordura e melhor marmoreio.

O Impacto do Aumento dos Preços da Arroba

As recentes altas no preço da arroba de boi têm imposto desafios significativos aos frigoríficos exportadores brasileiros. Com o encarecimento da matéria-prima, o repasse dos custos ao mercado internacional se torna mais difícil. Como resultado, a carne brasileira perde competitividade, abrindo espaço para que compradores busquem alternativas de maior qualidade em outros países, como os próprios vizinhos Argentina e Uruguai.

Essa situação expõe uma vulnerabilidade no posicionamento do Brasil no mercado global: o custo-benefício da carne bovina exportada. Enquanto o preço sobe, a qualidade percebida não acompanha, o que leva importadores a preferirem carnes com melhor marmoreio e sabor de outras origens.

Medidas em Andamento: O Caminho para a Evolução

Os pecuaristas brasileiros têm se esforçado para enfrentar essa questão por meio de diferentes estratégias. Um exemplo notável é o avanço da inseminação artificial, que transformou o cruzamento industrial em uma prática amplamente adotada no país. O sêmen de raças taurinas, como o Angus, já é o mais comercializado, impulsionando a produção de animais híbridos com maior produtividade e melhor aproveitamento da carcaça. Embora o foco principal desses criadores esteja no rendimento da carcaça, essa prática tem potencial de melhorar a qualidade da carne a médio prazo.

Além disso, pesquisas genéticas têm sido desenvolvidas com o objetivo de aprimorar as características de qualidade da carne nas raças zebuínas. Avanços em aspectos como o marmoreio podem contribuir para que, no futuro, a carne brasileira se torne mais competitiva no cenário internacional. No entanto, é importante reconhecer que essa é uma jornada longa e complexa, que exige investimentos contínuos em tecnologia e práticas de melhoramento genético.

O Desafio de Provar a Qualidade no Mercado Internacional

Mesmo que o Brasil consiga, em um futuro próximo, produzir carne de qualidade equivalente à de seus concorrentes, outro desafio se impõe: a consolidação dessa percepção no mercado internacional. A reputação de décadas e a predominância de raças zebuínas mantêm a carne brasileira como uma opção de menor valor agregado.

Para superar essa barreira, o setor deve investir em certificações, rastreabilidade e marketing que destaque os atributos da carne brasileira. Demonstrar a qualidade não apenas em números, mas também em experiências de consumo, é fundamental para reposicionar o produto nacional.

O Brasil tem a capacidade e os recursos para elevar o padrão da carne bovina que exporta. No entanto, a superação das altas recentes do preço da arroba e a diferenciação da carne no mercado internacional exigem uma combinação de estratégias: melhorias genéticas, práticas de manejo avançadas e um forte foco na valorização da marca Brasil. O caminho é desafiador, mas os passos já dados mostram que o setor está em movimento na direção certa.

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