O mercado pecuário brasileiro segue aquecido, com tendências que refletem tanto os movimentos globais quanto as dinâmicas internas do setor. Durante a última semana, os principais destaques recaíram sobre o mercado de proteínas animais e grãos, com valorização histórica em alguns segmentos e ajustes importantes em outros. Este DTC Report aborda os pontos mais relevantes que moldaram o cenário do agronegócio no Brasil na semana.
Boi Gordo em Alta: Um Ciclo de Recuperação
O preço do boi gordo alcançou níveis expressivos nas últimas 24 semanas consecutivas, sem apresentar qualquer desvalorização semanal. Na última medição, o preço chegou a R$ 349,75, aproximando-se do recorde histórico de R$ 350,05 registrado em março de 2022. A perspectiva de um boi gordo atingindo R$ 480 no futuro já é discutida, dado o aumento da renda per capita no Brasil e o aquecimento da demanda externa.
Esse cenário de alta é sustentado por uma combinação de fatores:
- Exportação como Gatilho Principal: Estima-se que cerca de 50% da produção de carne bovina em novembro de 2024 será destinada ao mercado externo.
- Demanda Externa Intensa: A necessidade de estoques de proteínas por grandes players internacionais, como China, Estados Unidos e Europa, tem contribuído significativamente para a elevação dos preços.
Os preços da carne bovina no varejo paulista subiram 7% entre setembro e outubro de 2024, atingindo R$ 44 por quilo, o maior valor desde janeiro de 2023. Embora o consumo interno esteja pressionado pela inflação, o aumento na renda média e a queda do desemprego estão sustentando a capacidade de compra do consumidor brasileiro.
Cadeia de Proteínas Animais: Suínos e Aves
O mercado de suínos e aves também apresentou recordes de exportação em novembro, mostrando um cenário altamente competitivo. As exportações de carnes na primeira quinzena de novembro mostraram forte crescimento, com destaque para a carne de frango, que apresentou aumento de 50% no volume diário exportado e mais de 60% na receita comparada a novembro de 2023. A carne suína também cresceu, com alta de 30% no volume e 45% na receita, além de ser a mais valorizada (+11%). Os preços médios também subiram em todas as categorias.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, combinada com incertezas econômicas globais, pode estar impulsionando uma estratégia de precaução, com estoques elevados de proteínas nos países compradores.
Mercado de Grãos: Desafios e Equilíbrios
O mercado de milho atingiu um patamar de estabilidade, com os preços oscilando entre R$ 73 e R$ 75 por saca. Apesar disso, a liquidez do mercado físico tem diminuído, enquanto a exportação permanece robusta, com projeções de que novembro termine com cerca de 4 milhões de toneladas exportadas.
Um dos fatores que influenciam o mercado de milho é a demanda doméstica em relação aos estoques. Embora os estoques estejam menores em comparação com o ano anterior, a situação atual não se assemelha aos picos de preços registrados durante 2020 e 2021. Além disso, há a relação de preços com a soja, que também exerce impacto. No Mato Grosso, por exemplo, o preço de uma saca de soja equivale a 2,2 sacas de milho, o que pode incentivar os produtores a comercializar o milho.
Já os preços da soja têm enfrentado um período de pressão, causado por diferentes fatores. Um deles é a safra favorável na América do Sul, já que as condições climáticas estão, em sua maioria, dentro da normalidade, apesar de algumas regiões enfrentarem períodos de estiagem. No cenário internacional, a incerteza sobre a relação comercial entre a China e os Estados Unidos também mantém o mercado em um estado de expectativa.
Previsões e Expectativas para os Próximos Meses
A previsão de chuvas nas principais regiões produtoras traz alívio às preocupações em torno das safras de soja e milho. Assim, apesar de algumas limitações específicas em áreas pontuais, o panorama geral indica condições favoráveis para uma safra dentro da normalidade, sem expectativas de quebras significativas.
O mercado do boi gordo segue valorizado, mas sua continuidade dependerá de fatores como a manutenção da demanda aquecida, tanto no mercado interno quanto no cenário de exportações. Já no segmento de grãos, o milho apresenta tendência de estabilidade nos preços, enquanto a soja pode sofrer oscilações, influenciada por possíveis mudanças nas relações comerciais internacionais.
As exportações de grãos e proteínas brasileiras devem permanecer em alta. A competitividade do setor agropecuário nacional e a forte demanda global por alimentos impulsionam esse desempenho, consolidando o Brasil como um dos principais fornecedores no mercado internacional.
Resumo DTC Report
O mercado agropecuário brasileiro está em um momento de transformação, com sinais claros de aquecimento tanto no setor de proteínas animais quanto no de grãos. A valorização histórica do boi gordo e os recordes de exportação em diferentes segmentos destacam o Brasil como um player estratégico no mercado global. No entanto, os desafios, como a pressão de preços na soja e a necessidade de equilíbrio entre oferta e demanda, continuam a exigir atenção dos produtores e investidores.
Com as condições climáticas colaborando e o mercado externo impulsionando a produção, as perspectivas para os próximos meses são de otimismo cauteloso. Dessa forma, o setor deve permanecer atento às dinâmicas internacionais e aos indicadores domésticos para maximizar oportunidades e mitigar riscos.
