Yellowstone, criada por Taylor Sheridan, é atualmente uma das séries de maior sucesso no mundo, atraindo milhões de espectadores com suas narrativas intensas sobre o mundo do rancho Dutton, disputas familiares e intrigas corporativas. A série não só mergulha nos desafios e belezas da vida no Oeste americano, mas também aborda questões complexas que envolvem a indústria do gado e o futuro do agronegócio. Com personagens carismáticos e cenas de tirar o fôlego, Yellowstone se tornou um fenômeno cultural, gerando discussões que vão além da telinha.
O episódio 9 da quinta temporada da série trouxe uma discussão interessante sobre o futuro da indústria da carne. Em um diálogo direto e provocador, Rip Wheeler, personagem interpretado por Cole Hauser, afirma:
Foto: Paramount
“Daqui a 30 anos, ninguém fará mais isso. Ninguém. O país (os EUA) vai ser coberto por fazendas eólicas e fazendas solares. E vamos comprar a nossa carne do Brasil, depois que eles queimarem a floresta.”
Antes disso, no sétimo episódio da mesma temporada, Sarah Atwood, vivida por Dawn Olivieri, complementa com um comentário mais detalhado:
Foto: Paramount
“Neste momento, o maior processador de carne dos EUA é uma corporação brasileira. Quatro mil hectares de floresta tropical desmatados todo dia para quê? Para criar gado. Isso é coincidência? O futuro da indústria de carne bovina nos EUA não existe. Em vinte anos, o Brasil será, para a carne americana, o que a China é para a indústria americana. Não haverá mais gado nos EUA.”
Essas declarações chamaram atenção não apenas por estarem em uma popular série de TV, mas por tocarem em pontos sensíveis e polêmicos sobre a sustentabilidade e a dinâmica do mercado de carne no Brasil. Embora o criador da série, Taylor Sheridan, tenha acertado em destacar a importância do Brasil no cenário agropecuário mundial, ele se equivocou ao associar de forma simplista a expansão da pecuária à destruição da floresta amazônica.
O Contexto da Produção de Carne no Brasil
A indústria da carne no Brasil é de fato uma das mais robustas do mundo. O país é um dos principais exportadores de carne bovina, concorrendo com gigantes como os Estados Unidos e a Austrália. Essa relevância no mercado global se deve a fatores como o vasto território disponível para a criação de gado, a eficiência dos métodos de manejo e a capacidade de inovação tecnológica.
No entanto, é fundamental compreender que a grande maioria da produção de carne bovina ocorre em regiões fora da Amazônia Legal, como nos estados de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo. O Brasil investe constantemente em tecnologia para maximizar a produtividade e reduzir o impacto ambiental. Métodos de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), por exemplo, têm se tornado um padrão de sustentabilidade. Essa técnica integra o uso do solo para criar um sistema sustentável, recuperando pastagens degradadas e ajudando no sequestro de carbono.
Sustentabilidade e Inovação no Agro Brasileiro
Contrariando a narrativa difundida por Sarah Atwood em Yellowstone, a realidade da produção pecuária no Brasil está cada vez mais alinhada com as exigências ambientais internacionais. Nos últimos anos, produtores têm adotado práticas sustentáveis, como manejo de pastagens e uso de tecnologias avançadas para monitorar e otimizar a saúde do gado. Dessa forma, o Brasil lidera o uso de rastreamento e monitoramento por satélite, ferramentas que controlam a expansão das pastagens e garantem o cumprimento das normas ambientais.
O desmatamento ilegal é um problema sério e complexo, que envolve a falta de fiscalização adequada, a corrupção e uma série de práticas irregulares que visam o lucro fácil. No entanto, rotular o agronegócio brasileiro como o grande vilão ambiental é uma simplificação que ignora as transformações que o setor vem enfrentando. Os produtores que operam legalmente precisam se adaptar a um ambiente de regulamentações cada vez mais rigoroso, tanto interna quanto externamente. Quem não se adequar, não sobreviverá no mercado.
O Papel do Brasil no Mercado Global de Carne
O comentário de Sarah Atwood, na série Yellowstone, sobre a participação de uma corporação brasileira como a maior processadora de carne dos EUA destaca um ponto verídico. Empresas como a JBS, de origem brasileira, realmente lideram a produção e a exportação de carne em vários mercados. Essa liderança é resultado de décadas de investimento em expansão, eficiência e inovação. Contudo, relacionar essa expansão diretamente com a destruição da Amazônia ignora o fato de que a JBS e outras empresas de grande porte têm políticas de compromisso com a sustentabilidade e investem em auditorias e certificações para garantir que suas práticas estejam em conformidade com as normas ambientais.
Além disso, o Brasil tem se destacado por exportar não apenas carne, mas também conhecimento e tecnologia. Pesquisadores e profissionais brasileiros do setor agropecuário ganham cada vez mais reconhecimento internacional pela sua expertise. As universidades e centros de pesquisa brasileiros, como a Embrapa, lideram estudos que visam melhorar a eficiência da produção e minimizar os impactos ambientais.
A Narrativa Internacional e os Interesses em Jogo
É inegável que a mídia internacional muitas vezes molda a percepção sobre a produção de carne no Brasil de forma unilateral. Reportagens que destacam o desmatamento sem contextualizar suas reais causas contribuem para uma imagem distorcida. Quem se beneficia dessa narrativa? A resposta pode ser complexa, mas é evidente que a concorrência internacional tem interesse em manter o Brasil sob uma lente crítica. Uma percepção negativa pode influenciar as decisões de compra e reduzir a competitividade do produto brasileiro em mercados mais exigentes, como a Europa.
Políticas protecionistas e campanhas de marketing buscam destacar a sustentabilidade dos produtos locais para proteger a indústria interna em relação aos importados. Nos Estados Unidos, por exemplo, o movimento Buy American incentiva a preferência por produtos nacionais, o que pode ser reforçado por representações como as de Yellowstone.
O Futuro da Carne: Brasil e Mundo
Quando o vaqueiro do rancho Yellowstone sugere que o futuro da carne nos EUA está ameaçado e que a solução será importar carne do Brasil, a série toca em uma preocupação legítima. As mudanças climáticas, as novas políticas ambientais e a crescente demanda por proteínas alternativas colocam pressão sobre os sistemas tradicionais de produção. No entanto, o Brasil está em uma posição única para atender a essa demanda de forma sustentável, se continuar investindo em inovação e regulamentações que assegurem a proteção ambiental.
Fonte: Embrapa
A carne brasileira tem um papel central na alimentação mundial, e a responsabilidade de produzir de maneira sustentável é compartilhada entre produtores, governo e consumidores. O uso de selos e certificações como a Carne Carbono Neutro (CCN) já sinaliza um caminho promissor. Tais iniciativas permitem que os consumidores façam escolhas conscientes e incentivam práticas responsáveis em toda a cadeia de produção.
As falas dos personagens de Yellowstone colocam uma lente dramatizada sobre a realidade do agronegócio e do mercado de carne no Brasil. Embora haja aspectos verdadeiros, como a importância do país no setor e o desafio do desmatamento, as afirmações sobre a destruição da Amazônia para a criação de gado carecem de nuances e precisão. O agronegócio brasileiro, especialmente a produção de carne bovina, se compromete cada vez mais com a sustentabilidade e atende às exigências do mercado internacional. A evolução da tecnologia, o aumento da responsabilidade ambiental e a transparência são pilares que sustentam essa transformação.
O texto toca em pontos interessantes sobre o mercado global e as interfaces da economia globalizada e a cultura midiática, que não é inocente, nem neutra. De fato, o agronegócio é um dos principais motores da economia nacional e este tipo de debate toca na própria questão da soberania nacional. Mas o texto desconsidera a atuação de parcela do setor produtivo brasileiro que, sim, é nefasta e degrada o meio ambiente e as condições de vida das populações mais vulneráveis. Não é um jogo dicotômico, mocinhos versus vilões, pois a parcela séria do setor produtivo – que investe em tecnologias de sustentabilidade para neutralizar os impactos ambientais – também sofre com a parcela descompromissada com a regulação e que insiste na degradação. As leis ambientais rígidas são um bom negócio não apenas so futuro do planeta e da humanidade, mas para os próprios setores que atuam com responsabilidade no mercado global.
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Texto interessante e que traz pontos muito fortes de um cenário que vem se desenhando ao longo dos anos. Parabéns.